Voltar ao analógico? (1)

ImagemUm dia todos vamos perceber que o progresso tecnológico interfere negativamente com a qualidade de vida. Hoje, à custa de um marketing equivalente a uma verdadeira lavagem cerebral, muitos têm a percepção de que a qualidade se encontra nas especificações técnicas e nos gadgets que um determinado produto incorpora. Muitos fabricantes – talvez a maioria – vende produtos carregados de tecnologias inúteis procurando ludibriar o consumidor com funcionalidades de que este não precisa, mas de que sente uma falsa necessidade de maneira a surgir sempre na crista da onda tecnológica.

A verdade é que esta é uma tendência quase irreversível, agravada pelo facto de existir uma concorrência feroz que obriga os fabricantes a lançar no mercado produtos que incorporam tecnologias que ainda não estão suficientemente testadas ou que não podem ser usadas por muitos consumidores. O meu amigo Francisco M., da Luz e Som, mostrou-me um receptor de cinema em casa cujo prospecto impressionava, não apenas pelo aspecto mastodôntico do aparelho, mas pela quantidade incrível de etiquetas incorporadas: Dts, HDMI, WiFi, Bluetooth, Spottify, Dolby Surround, etc. Uma litania de tecnologias que, em muitos casos, não funcionam: o Spottify só resulta na Alemanha, a ligação em rede é complexa e deficiente, dependendo de factores como a qualidade do sinal – mas o fabricante esqueceu-se de informar o consumidor acerca disto. Até porque este último é capaz de comprar o referido receptor, não pela qualidade do som, mas pelo número de gadgets estampados no painel frontal. E ai do fabricante que se deixe ficar para trás nesta guerra de rótulos!

O mesmo na fotografia. A Samsung já lançou câmaras que transmitem imagens via WiFi, o GPS (que é completamente inútil em matéria de qualidade da imagem) está a universalizar-se porque as pessoas se deixaram convencer que o geotagging é importantíssimo. Mais importante, porém, é que, enquanto os fabricantes se envolvem nesta competição e continuam a lançar sensores capazes de cada vez maiores sensibilidades ISO e com números de pixéis cuja utilidade marginal decresce, os verdadeiros problemas atinentes à qualidade da imagem continuam por resolver. Por exemplo, o aquecimento dos sensores durante as exposições longas: não digo que ponham uma ventoinha ou um radiador no sensor – mas não haverá maneira de usar tecnologias termicamente mais eficientes? O aparecimento de pixéis quentes não é de maneira nenhuma compensado pelo facto de a câmara ter GPS, por amor de Deus! E continua por esbater a diferença entre a gama dinâmica do filme e a dos sensores digitais, que estão ainda longe de obter as transições suaves do analógico e, consequentemente, a qualidade da apresentação das sombras e das altas luzes.

A minha sessão fotográfica de Sexta-feira, em que algumas das melhores fotografias ficaram arruinadas pelos pixéis brancos resultantes do sobreaquecimento do sensor, deixou-me de tal maneira frustrado que perdi quase por completo a vontade de fotografar. Apeteceu-me deitar a câmara ao lixo, de tão ultrajado que me senti por este problema técnico que nos querem convencer que é uma característica natural, não dos sensores, mas de toda a fotografia digital. É ridículo: os fabricantes estão mais preocupados em ter uma aparência de usarem tecnologias de ponta do que em resolver os problemas e optimizar o material que lançam no mercado.

Em consequência do meu descontentamento com o desempenho térmico do sensor e suas repercussões na qualidade da imagem, dei por mim a pensar muito seriamente em converter-me à fotografia analógica. No próximo texto analisarei as vantagens e desvantagens de cada uma das tecnologias. Stay tuned.

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