Morreu hoje aquele que, conjuntamente com Pierre Boulez e Bernard Haitink, podia ser considerado o último dos grandes maestros. Claudio Abbado, que ficou conhecido pela sua longa permanência como director musical da Filarmónica de Berlim, pode ser incluído entre nomes como Herbert von Karajan (a quem sucedeu à frente da orquestra de Berlim), Eugen Jochum ou Karl Böhm. As suas interpretações eram rigorosas, escapando à tendência de actualizá-las de que muitos maestros jovens padecem. Podiam ser consideradas analíticas ou desapaixonadas, tal como as interpretações desse outro grande italiano que venero acima de qualquer outro, Maurizio Pollini, mas eram fiéis à verdade. É curioso como estes dois italianos negam o cliché do latino apaixonado, tumultuoso e impetuoso. Em Abbado, como em Pollini, há sobretudo uma interpretação do que está nas pautas tal como os compositores a pretenderam. Sem maestros como Abbado, há muito que a música erudita se teria tornado numa corruptela dela própria.
M. V. M.